Rechercher
Fermer ce champ de recherche.
Rechercher
Fermer ce champ de recherche.

Patromónio Imaterial

Tabanca

Partilhar

Tabanca

As festividades da tabanca se iniciam com um conjunto de preparativos que culminam com as atividades no dia do santo patrono do grupo.

Na cidade da Praia, os preparativos se iniciam normalmente algumas semanas antes do dia do santo patrono, com a angariação de fundos junto de entidades públicas e privadas e na própria comunidade.

Esses apoios financeiros servem para a compra de elementos decorativos para a ornamentação da corte, manutenção e renovação de instrumentos musicais e outros equipamentos que fazem parte do desfile de buska santu, aquisição de alimentos e outros utensílios necessários para a comensalidade do grupo, durante toda a festividade, a confeção da indumentária do grupo e o pagamento da dívida à rainha ou ao rei di gazadju.

Habitualmente durante uma semana antes do dia do santo patrono, se iniciam as atividades com o toque de salva na capela do grupo, que consiste numa cerimónia sagrada presidida pelo rei di korti ao anoitecer, que é equivalente à reza do terço católico, através de toques rituais de tambor, beijo e dança das varas de salva; apresentação e dança da bandeira pelo rei de corte; cântico da ladainha e finalizada com o toque da tabanca. Paralelamente, um grupo de mulheres vão preparando uma canja para todos os presentes. Seguidamente celebra-se o batuku no terreiro, num espaço em círculo à frente da capela da tabanca e no meio normalmente as mulheres dançam pela noite adentro ao som da txabeta, que marca o compasso do batuku. Nas vésperas do dia do santo patrono o batuku é celebrado até ao amanhecer.

No interior da ilha de Santiago os grupos iniciam as suas festividades alguns dias antes do dia do seu respetivo santo patrono com uma reunião entre os seus membros, que é normalmente presidida pelo rei do grupo, com o intuito de serem tomadas de todas as decisões importantes para o bom desenrolar das suas festividades. Essas decisões estão sobretudo relacionadas com a utilização dos fundos angariados pelo grupo, nomeadamente através de quotas dos membros, instituições públicas e privadas, remessas de antigos membros ou familiares que se encontram na diáspora, entre outros.

Nas vésperas do dia do santo patrono do grupo, alguns membros dirigem-se de manhã à capela da tabanca para efetuar a ornamentação da corte, que localmente se designa por arma korti. Outros membros vão enfeitando em simultâneo as ruas da localidade, por onde passarão a procissão e o desfile da tabanca. À tardinha, os homens procedem à matança de animais (porco e cabra), para a festividade. As mulheres reúnem-se para os preparativos da comida e recolhem os utensílios de cozinha na vizinhança, uma vez que os do grupo serão insuficientes para toda a gente que acorre à festa. Confecionam sopa para os que estão presentes enquanto o batuque se prossegue até ao amanhecer. Durante a madrugada, colocam o feijão ao lume, que será usado no cardápio da grande comensalidade popular no dia do santo patrono.

Na cidade do Porto Inglês, ilha do Maio, por volta do décimo dia do mês de abril, um grupo de pessoas, na sua maioria membros da Tabanca Djarmai, provenientes principalmente duma zona denominada Pariba, deambulam, ao som do toque do tambor e das cantadeiras, pela cidade de casa em casa pedindo ajudas para as festividades da tabanca, cujo culminar se celebra no dia 3 de maio, dia do seu santo patrono: Santa Cruz.

Cada um oferece aquilo que pode, de acordo com a sua condição financeira e todas as ajudas são consideradas de igual modo. Os membros da tabanca contam ainda com as ajudas provenientes das outras localidades da ilha, das remessas dos emigrantes que todos os anos regressam à terra natal para assistir orgulhosamente as festas de Santa Cruz e, dalgumas instituições públicas, nomeadamente o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal local.

Cerca de uma semana antes do dia de Santa Cruz dá-se o encontro entre a rainha e o rei da Tabanca Djarmai, que também são os juízes da festa de Santa Cruz. Antes disso, a rainha manda lançar um foguete nos arredores da sua casa, de seguida o rei manda fazer o mesmo, em jeito de resposta. A rainha e o seu cortejo saem, ao som do tambor, das cornetas (conchas do búzio) e das cantadeiras, ao encontro do rei, que também sai acompanhado do mesmo modo, mas coberto com uma colcha segurada nas quatro pontas, pelos seus acompanhantes. Após o encontro, os dois grupos fundem-se e formam um único cortejo que vai em direção à casa da rainha.

A casa da rainha transforma-se no espaço onde se vai desenrolar toda a festividade da tabanca. Com a chegada de várias pessoas de diferentes localidades da ilha, trazendo cada uma alguma oferta, sobretudo géneros alimentícios e bebidas, procede-se aquilo que chamam de kotxida, que consiste na trituração do milho no pilão, animada pelo som do tambor e das cantigas das cantadeiras e simultaneamente à matança de animais. Levam-se panelas ao lume, distribui-se a comida a base do milho, xerém e cachupa, e faz-se o batuku no meio do terreiro, noite adentro. Este ritual repete-se até as vésperas do dia de Santa Cruz.

O dia 2 de maio é o dia da ornamentação da corte, na qual participam essencialmente as mulheres. Trata-se de uma longa tarefa que exige bastante conhecimento da técnica e que consiste na fixação de um lençol branco na parede, onde são pregados lenços em forma de cruz, bolos, rebuçados, etc. À frente do lençol coloca-se uma mesa sobre a qual se enfeita o altar, onde serão colocados velas e os símbolos sagrados: a cruz de madeira e os bonecos, sendo que o macho representa o juiz e a fêmea, a juíza. No teto abre-se uma colcha de cor azul, que representa o céu e é assim designado, onde se afixa também os mesmos produtos que no lençol. Este é o espaço sagrado da festividade. Neste dia as festividades tradicionalmente vão até ao amanhecer.

Dia do Santo Patrono: na cidade da Praia, de manhã cedo, os ladrões e outros cativos dirigirem-se à igreja para assistirem à missa solicitada pela tabanca, celebrada em honra do santo patrono. Após a missa, os ladrões regressam à localidade e tomam o pequeno-almoço no pequeno quintal da capela da tabanca. De seguida, vão para a corte para roubar o santo no altar, que se encontra geralmente guarnecido por um grupo de soldados. O santo, que é roubado, é representado por uma bandeirinha branca com uma pequena cruz vermelha no meio e uma vara de salva.

Após conseguirem efetuar o roubo do santo, os ladrões correm rapidamente para fora da capela exibindo publicamente a sua vitória e dirigem-se para a casa da rainha ou rei de agasalho para venderem o santo e coloca-se a bandeira do santo patrono a meia haste, que é usualmente içado à frente da capela. O grupo demonstra, assim, que está de luto, por causa do santo que já foi roubado.

Chegados à casa da rainha ou rei de agasalho, que é a pessoa que se compromete com o grupo para comprar o santo durante sete anos, os ladrões negoceiam a venda do santo com a rainha ou o rei de agasalho. Depois da efetivação do negócio, a rainha ou o rei de agasalho manda guardar o santo num local seguro e manda oferecer um banquete aos ladrões e estabelece-se ali um convívio. No fim, os ladrões combinam com a rainha ou rei de agasalho o dia da busca do santo pelo grupo da tabanca, de acordo com a disponibilidade da rainha ou o rei de agasalho.

Seguidamente, os ladrões regressam à localidade para tentar ganhar a bandeira ou o santo, que consiste no tocar na bandeira a meia haste na rua antes de serem capturados pela guarnição da bandeira ou agarrar o rei ou a rainha de corte, antes de serem capturados pelos soldados da tabanca. Se conseguirem ganhar a bandeira serão ilibados, caso contrário, serão submetidos aos interrogatórios e açoitados. Após isso, distribui-se comida e bebida para todo o mundo que estiver ali presente e festeja-se pela noite dentro.

No dia da busca do santo, todo o mundo se dirige para a capela da tabanca. Começam-se os preparativos para o desfile com o toque de caminho, que é efetuado por um rapaz que transporta uma vara de salva, seguido de dois tamboreiros. No final, o rei de corte toma a vara de salva e preside uma curta cerimónia de toque de salva e, no fim, ordena o início do desfile.

O cortejo sai da localidade com o comandante à frente e as suas tropas, vai a rainha e o rei de campo acompanhadas pelas filhas de santo e pelo rei e a rainha de corte, a mandora, que organiza as negras da tabanca. O carrasco, que vai organizando e protegendo o grupo das restantes pessoas alheias ao grupo. Os tamboreiros e os corneteiros que vão animando a multidão com os ritmos frenéticos do tambor e do búzio. À medida que o grupo vai passando pelas diversas localidades o desfile vai se engrossando com mais pessoas.

Enquanto o desfile se decorre, na casa da rainha ou o rei de agasalho o falcão vai tentar roubar o santo. Se ele não conseguir efetivar o seu intento, ao fim de algum tempo a rainha ou o rei de agasalho se compadece dele e lhe devolve somente a bandeirinha e mantem-se com a vara na sua posse como forma de garantir a devolução da quantia com a qual havia comprado o santo, pelo grupo da tabanca. Por vezes, a rainha ou o rei de agasalho, por sua livre e espontânea vontade, pode perdoar a metade ou a totalidade da dívida, em prol da sua dádiva para o santo, que fica para o fundo do grupo.

O falcão corre em direção do grupo que vem se aproximando em cortejo, que, por sua vez, chegado perto da casa da rainha ou rei de agasalho, o grupo abranda o passo e os tambores e corneteiros passam a tocar a salva e quando o falcão chegar ao seu encontro e entregar a bandeira ao rei de campo ou na ausência dele, ao rei de corte, os tambores e as cornetas voltam a tocar freneticamente e o desfile toma o rumo para a casa da rainha ou rei de agasalho. Na casa da rainha ou rei de agasalho o rei de corte comanda o toque de salva o grupo entra na casa e, no fim, o grupo deixa depositado ao pé de um pequeno altar improvisado pela rainha ou o rei de agasalho os materiais que levaram: os tambores, as cornetas, os barcos, os aviões, as espingardas, entre outras coisas, transformando o espaço numa corte temporária. De seguida, todos vão disfrutar da comida e da bebida e um grande convívio até madrugada.

No dia seguinte, o grupo se organiza para regressar em desfile à sua localidade. Ao regressar recolocam o santo no altar. Para terminar as festividades daquele ano, organiza-se num outro dia uma cerimónia que é localmente designada por lába tripa e que consiste numa festa para se consumir todos os produtos alimentícios facilmente perecíveis, que sobraram.

No interior da ilha de Santiago, no dia do santo patrono, a pedido da tabanca, o pároco celebra a missa na localidade na capela da tabanca, seguido da procissão pelas ruas da localidade. Normalmente à noite, os padres de reza dirigem a ladainha na capela da tabanca. Seguidamente os presentes reúnem-se para a festa da tabanca e o batuque até ao amanhecer.

No dia seguinte, os membros do grupo concentram-se na capela para organizar uma saída para fora da localidade, onde fazem visitas a familiares e amigos de Santo patrono e depois realizam uma visita de cortesia à rainha ou rei de oferta, onde servir-lhes-ão comida, bebida e uma oferta monetária para o fundo do grupo. Todos os anos cada grupo tem a obrigação de efetuar este ritual aos antigos reis e rainhas de oferta, que localmente denominam de báxa koroa. Ao regressar à localidade distribui-se comida e bebida para todos os presentes e depois festeja-se a tabanca e o batuque até madrugada.

No dia subsequente, o grupo se dirige para a casa do atual rei ou a rainha de oferta, onde serão recebidos com comida, bebida e oferenda monetária para o fundo do grupo.  Durante o trajeto o grupo vai visitando os vários emigrantes que regressam à terra natal, para visitar a família e assistir as festividades. Posteriormente, o grupo regressa, sob o comando do rei ou rainha de oferta, que vai acompanhado no desfile pelos seus convidados, para a localidade da tabanca. Ali, serão também recebidos com comida, bebida, festa da tabanca e batuque, na capela tabanca, que durará até de madrugada. Depois disso, o grupo fará uma pausa por alguns dias.

Após isso, o grupo organiza a cerimónia da arrematação pública dos géneros alimentícios com os quais foram ornamentados a corte, nomeadamente banana, cana-de-açúcar, manga, mandioca, entre outros, mas desde que não seja numa sexta-feira, porque normalmente existe um mau auspício com a realização da arrematação nesse dia. Após isto, dá-se por terminada a festividade da tabanca.

Na cidade do Porto Inglês, no dia 3 de maio, dia de Santa Cruz, pela manhã reza-se uma missa, em honra de Santa Cruz, na igreja matriz.

À tarde, o cortejo sai da casa da juíza em direção à cruz, que fica situada na Salina. À frente do cortejo vai a cruz de madeira, que é geralmente transportada por um rapaz. Seguidamente vem os dois criados, um rapazinho que leva o boneco e uma menininha com a boneca, à frente dos juízes da festa. Atrás seguem os rezadores, que fazem todo o percurso cantando a ladainha. Alguns fieis acompanham este grupo rezando o terço pelo caminho. Logo após, vem o grupo da tabanca de Djarmai, que se distancia alguns metros do grupo anterior, ao som do toque do tambor e das cornetas salvaguardando, deste modo, uma divisão entre o sagrado e o profano. E por último, vem os juízes da tabanca Jovem, acompanhados pelo seu grupo também ao som do toque do tambor e das cornetas. Na Salina, os fiéis se reúnem à frente da cruz, todo enfeitado com flores e onde serão depositados na sua base a cruz de madeira e os bonecos. Procede-se então à cerimónia sagrada, normalmente liderada pelo pároco local e no fim serão anunciados, pelo presidente do grupo da tabanca de Djarmai, os juízes dos grupos da Tabanca de Djarmai e da Tabanca Jovem, para o próximo ano.

No regresso, os grupos da tabanca desfilam circulando três vezes a cruz e depois seguem o seu caminho de retorno, no cortejo com a mesma ordem anterior. O cortejo, antes de chegar ao seu destino, a casa da juíza, vai fazendo uma curta pausa nas casas dos antigos juízes de Santa Cruz e, por último, a casa da nova juíza antes da casa da juíza da festa. Uma vez chegados na casa da juíza, onde lhes aguarda uma copiosa festança, antes os juízes fazem o inventário das mesas, das panelas, bebidas, entre outros produtos e entregam-no num papel aos juízes do próximo ano. De seguida, faz-se a abertura das mesas e todos presentes vão desfrutar da festança que prossegue pela noite adentro.

Nos próximos dias, os fieis vão à tardinha na casa da juíza para rezar o terço na corte e no fim distribui-se cachupa e canja de galinha e arroz.

Alguns dias depois, procede-se, tradicionalmente numa sexta-feira ou sábado, à última cerimónia que marca o fim das festividades da tabanca de Santa Cruz, na ilha do Maio: xinta cruz. Nas vésperas, toca-se o tambor até o amanhecer. Por volta das cinco horas de manhã faz-se a tirada da corte. Primeiro, tira-se todos os objetos colocados no lençol e, por ultimo, o lençol. Depois tira-se todos os objetos colocados no “céu” e seguidamente a colcha. Toda a desmontagem da corte é feita ao som do toque cerimonial do tambor.

A cruz de madeira leva-se para a casa da pessoa que se tinha previamente manifestado disponível para guardá-la até o próximo ano. 

Os bonecos serão entregues à juíza do ano seguinte, a sucessora da rainha da Tabanca de Djarmai, que os envia imediatamente para cada casa das doze localidades, circulando a ilha: Barreiro, Figueiras, Ribeira Dom João, Pilão Cão, Alcatraz, Pedro Vaz, Santo António e Praia Gonçalo, Cascabulho, Morrinho, Calheta, Morro e regressa ao Porto Inglês. Por cada casa que passam as pessoas beijam-nas e rezam o terço e mandam oferecer aquilo que podem à juíza. Normalmente os bonecos são enviados no mês de maio e regressam no mês de março ou abril, do ano seguinte. A juíza terá de vestir novamente os bonecos com cetim branco na época da festa de Santa Cruz, porque regressam praticamente sujos, por causa de tanto manuseamento.    

Após um exaustivo processo de inventário com as comunidade, o Estado de Cabo Verde classificou a Manifestação da Tabanca como Património Cultural Imaterial Nacional, a 9 de Agosto de 2019, data em que também se elevou a Língua Cabo-verdiana a Património Nacional.

Galeria de Imagens

Outros Patrimónios

Funaná

O Instituto do Património Cultural no quadro da sua missão, visão e valores tem promovido, divulgado

Saber Mais

Olaria Tradicional

A Olaria tradicional é um projeto que visa analisar, de forma científica, o papel da Olaria, enquanto Património Cultural Imaterial (PCI)

Saber Mais

Língua Cabo-verdiana

Conhecida como uma das primeiras línguas surgidas em contexto de contacto linguístico no período dos descobrimentos, a língua cabo-verdiana, designação técnica correta ou crioulo / kriolu como…

Saber Mais