Tenho defendido que é preciso ficar em paz com a história. Ficar em paz com a história, não é calar a história, não é branquear a história, não é truncar a história.
É contar a história sem a imposição de ideologia oficial ou oficiosa. É contar a história completa de uma nação com mais de cinco séculos e meio de existência. É estudar, ensinar e evidenciar a história de Cabo Verde, desde os descobrimentos, colonialismo, independência, autocracia de partido único e liberdade e democracia.
Ficar em paz com a história, é reconciliar a nação com o seu passado.
É assumir que nenhum regime totalitário ou autoritário é bom, porque atenta contra a liberdade e a dignidade humana, seja ele implantado durante o regime colonial, seja durante os períodos de partidos únicos pós-independência, seja no contexto do mundo atual de ataques à democracia e de crescimento do populismo e do extremismo.
Ao longo da história de mais de 5 séculos e meio, produziu-se a identidade cabo verdiana, a cultura, a diáspora, momentos trágicos como a fome e a resiliência face às adversidades da natureza.
Ao longo da longa história fizeram-se combates pela liberdade e combates pela dignidade humana através de intelectuais, políticos e igrejas.
Todas essas histórias merecem ser estudadas, ensinadas e valorizadas.
Assim se pacifica sem calar, sem branquear e sem truncar a história.
É importante para as atuais e futuras gerações. É importante para concentrar as forças da nação na proteção e aprimoramento da democracia e no esforço de desenvolvimento.
Recorrentemente, nalgumas partes do globo, o ódio, a intolerância e o messianismo de recomposição de impérios alimentam-se da história para realizar guerras e conflitos. Estão sempre em combate em nome da história, de geração em geração. Por isso, é importante ficar em paz com a história.
No campo da concentração conta-se uma parte da história da repressão e de como se torce a dignidade humana até à morte.
No monumento da liberdade que iremos construir na Praia, vai-se contar e evidenciar a história da Democracia e da Liberdade.
Patrimónios históricos, culturais e religiosos fazem parte da nossa história. Por isso é que desde 2017 temos investido forte na reabilitação e restauro. É uma forma de valorizar e evidenciar a história secular desta nação e não deixar a história ser truncada e nem assaltada por ideologias interessadas em impor o sentido da história.
Precisamos de mais museus temáticos e monumentos que evidenciem a história desta nação secular.